14.2.09

Alfa Beta

tudo e todas as coisas do reino das palavras daqui saem
a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u w v x y z

Imoraes

Que não seja eterno posto que é cama.
Mas que seja imortal enquanto duro.

Binário

sem-você-meu-amor-vou-sem-cor-sem-porquê-não-deixe-meu-arco-íris-ser-p&b

É

tal
vez

Anjinho

Ontem de manhã, caminhando pelas alamedas do cemitério, deparei com o túmulo da menininha, morta aos 6 anos, em 1967.

Eternas saudades de seus pais, irmãos, tios, primos e avós.

Oh! musa

Escolhe, amor, qual destas musas quer ser.

Eis seus nomes, significados, artes relacionadas e atributos de cada uma.

Escolhe, amor, escolhe, mas seja sempre você, exatamente assim como você é, por favor...

Clio, "Glória", história, livros/ rolos...

Euterpe, "Alegria", música, flauta...

Tália, "Festa", comédia, máscara teatral (cômica...)

Melpômene, "Dançarina", tragédia máscara teatral (trágica...)

Terpsícore, "Alegra-coro", dança, canto lira...

Erato, "Amorosa", poesia amorosa declamação, lira/ cítara...

Polímnia, "Hinária", hinos, poesia lírica e atitude de meditação...

Urânia, "Celeste", astronomia globo e compasso...

Calíope, "Belavoz", epopéia, eloqüência, estilete e tabuinhas (tem preeminência sobre as demais, pois, dentre todas, vem à frente...)

E não se esqueça: minha Musa é você, humana, com fraquezas e dúvidas...

Perfeitinha para mim...

Besta

Peraí.
Quem foi que deu com a língua nos dentes e falou o que não devia? Quem?
Não gosto de conversinha fiadafiada. E ainda mais quando põem palavras em minha boca. Eu não disse o que disseram que eu disse.
E, se tivesse que dizer, teria falado na cara, na lata, na bucha. Que não sou de ficar mandando recados atravessados, até porque sei que as palavras nunca são as mesmas ditas-emitidas-pronunciadas.
E façam-me o please de um favor de repararem essa situação, de desfazerem esse mau-entendido, que, repito, usaram meu nada santo nome em vão, oferecendo, como meus, argumentos que nada têm a ver com o que eu realmente penso acerca disso.
Não me interessa. Quem agiu de má-fé que se vire; que calce a cara e vá até lá e esclareça de uma vez por todas essa coisa-toda. Eu, hein?!.
Então sou cara de ficar metendo o nariz onde não sou chamado? Nunquinha. Nem nos assuntos que me dizem respeito costumo agir assim. A não ser que me chamem para a roda. Sou muito na minha.
E é por isso que estou pê da vida com essa história.
Onde já se viu, alguém sequer pensar-imaginar que me simpatizo com este babaca deste Papa Bento XVI, o iminência parda de batina, que sempre ditou regras entre um charuto e outro e tantas quantas taças de vinho nos bastidores do Vaticano?
Logo eu, pô, que perdi mais de cem denaros com a quebra do Banco Ambrosiano. Ah, eu quero mais é que este pseudo sucessor de Pedro vá

Doideira

impaciência
mãe da ansiedade
irmã do impulso
prima da pressa
avó do afoito
tia da agonia
sobrinha da sofreguidão
cunhada da irritação
madrinha do desgaste
namorada do estresse
caso da raiva

Eu e ela

eu
que
não
sou
bobo
nem
nada
deixei-a
calada
ela
que
é
inteligente
em
tudo
deixou-me
mudo

Divagando

Perdido em mim, ninguém me encontra, acho.

Tanto silêncio

- Por que tanto silêncio?
- E acaso silêncio tem tanto?
- Tem...
- Então o que te incomoda é isso?
- O quê?- A quantidade...
- Sim...
- O silêncio em si já é muito.
- Eu sei, diz tudo...
- É, diz...

Irreflexão

Não acredite em tudo que lhe contam. Há mentiras tão bem engendradas, que ganham veracidade até no brilho do olhar de quem as emite. Eu, por exemplo, sou uma farsa. A quem falo de amor, acaba por me ferir. Acredito, sabe. Abusar de minha boa fé é fácil. E nunca aprendo. Por isso lhe digo, experiente que sou: nem sempre acredite em palavras pensadas e pesadas. Cuidado com as artimanhas. Escute mais o pensamento da pessoa...

Ralo

Começa com um piano, mal tocado. Mas não. Aos poucos cresce, e é dentro da gente. A sonoridade invade. Coração, pêssego em calda... Ainda bem que não há nenhum ralo por perto. Estou fluindo, liquefeito, poderia escorrer, sem-fim, para sempre, até nunca mais...

O imperceptível

Ainda não encontrei o caminho das pedras para minha escrita. Ainda piso em águas, lodo, lama, enfrento charcos, pântanos, mas sei que todo romântico passa por isso. Romântico no sentido amplo do ser. A visão subjetiva. O modus operandi do dia a dia, a forma, o contorno, os detalhes de tudo. A observação geral do todo, em tudo por tudo. Poderia dizer que às vezes sofro sendo assim. Mas não. Essa é minha missão. Ver o imperceptível. Então percebo que o ato de escrever (dom?) é a necessidade de expressar, mesmo que ininteligível e hermético, essas nuanças da rotina. Alguém já me aconselhou a cura. Mas essa febre interior não cessa. Sou impulsionado, entende? E se não pôr para fora é possível até que fique entrevado. Agora, por exemplo, estou remexendo uma montanha de barro. Logo, logo será possível saciar-me com a água clarinha minando de poço tão sujo...

Doninha

Quem já parou para pensar nas regras impostas verá que algumas são estranhas, tentam nos condicionar a comportamentos adequados, pré-estabelecidos, em conformidade com o rumo a seguir em sociedade. Qualquer diferença inexata (diferença inexata pode dizer nada ou muito) que alguém possa demonstrar, logo recebe um rótulo. Por isso mandei tatuar um sol invisível em minhas costas. Só pode ser visto por olhos que alcançam o belo e o livre. O que, aliás, não é seu caso, Doninha.

O que sentir?

Os mais atentos já devem ter percebido o silêncio geral. Com os olhos. Porque ninguém diz essa boca é minha. Mas atordoa. Tal emudecer reporta-nos a um tempo de mordaça revelada. Hoje, a mudez humana vem da falta do que dizer. Se alguma esperança havia, gritamos para obtê-la. Uma vez conquistada, decepcionamo-nos. E agora, dizer o quê? Calemo-nos para sempre, então? Não, não e não. Berremos a plenos pulmões. Fora, corja! Não podemos consentir que brinquem conosco, com o sentimento daqueles que nem sabem o que é sentir. Que estes, coitados, nem pensar conseguem.

Sanguíneo

Desde que engoli um peixinho vivo, há muitos e muitos anos, sei não, mas meu peito parece um aquário. E como meu coração palpita muito e sempre, digo: é ele. Será? Não, não pode ser. Isso é loucura.

Agulha no coração

Meu pai foi assassinado quando eu tinha 8 anos. O homem que o matou expressava temor nos olhos, pensando que eu vingaria a desdita. Assim viveu o resto de seus dias. Jamais pensei em tal hipótese. Ele morreu dormindo, de morte natural, em março, no dia de meu aniversário de 39 anos. Meses depois de sua morte o perdoei, solitariamente, em seu túmulo, que me foi difícil de ser encontrado, dentre centenas de outros. Não sofri qualquer dor. Saí do cemitério numa leveza. Era domingo. Foi um perdão parecido com uma enorme agulha, retirada de meu coração, onde ficou enfiada por três décadas. Sangrou um pouco, mas estanquei o jorro com os dias seguintes para minha contemplação de certezas. A verdade é essa. A finíssima agulha está aqui para quem quiser ver.

Açúcar

- Eu vi as imagens. Um cinegrafista amador filmou.
- Branquinha?
- Da mais pura.
- Tem certeza que não é?
- Certeza, certeza, tenho não.
- A dúvida é pior.
- Uma pilha alta.
- Tava em embalagem?
- Acho que não.
- Não era pra ser mesmo não.
- Muita coisa.
- Por que não mandou Pezão e Tonel até lá?
- Quem disse que achei os dois.
- Na hora que eu mais preciso.
- A polícia interditou tudo.
- Interditou? Como assim? A rodovia?
- A rodovia só não. Todo o perímetro. Não deixou ninguém entrar.
- Veículos, você quer dizer.
- Nem pessoas.
- Estranho.
- Alegaram que a pista tava bloqueada.
- Sei.
- Foi isso que disseram.
- Quanto tempo gastaram?
- Em quê?
- Nessa operação, de liberação.
- Agiram rápido.
- Foi, é?
- Hum, hum.
- Mas, e as imagens?
- Que é que tem?
- O que você acha?
- Olha, sei não...
- De onde vinha a carreta?
- Vou saber?
- Tombou como? Numa curva?
- Difícil responder.
- E a cor, você viu?
- Foi filmada de longe...
- Cara, o carregamento era pra chegar hoje.
- Não me diga que...
- Em plena Anchieta, justo num domingo.
- Muito esquisito.
- Liga pro Pezão. Quero ele no circuito.
- Mas agora é tarde, já limparam o trecho.
- Lavaram o asfalto?
- Lavaram.
- Que fim deram no motorista?
- Pelo que sei, teve ferimentos leves.
- E daí?
- Foi levado pro pronto-socorro de Cubatão.
- E o nome dele, disseram?
- Se falaram, não prestei atenção.
- Foda.
- Tá achando que...
- Se for, os colombianos vão baixar aqui.
- Putz!
- Era polícia mesmo?
- Como é que vou saber?
- Liga pro Pezão, vai, liga logo.
- Tentei. Tá fora de área.
- E o Tonel?
- Também.
- Amadores!
- Pensando bem, seu grilo tem sentido.
- Só tem.
- O tombamento foi em um trecho de serra, numa subida.
- Na rota programada.
- Será que os homens fardados eram da polícia mesmo?
- Tá cheirando armação.
- Só tá.
- Numa subida.
- Velocidade mínima.
- Região deserta da rodovia.
- Era açúcar mesmo?

[Acabou-se o que era doce].

Ala psiquiátrica

os
loucos
do
mundo
são

Antiguinho

todos os meus amores
são do século passado
no Século 21
ainda não tive nenhum

Raquete

     p
i
n
gue pong
ping pong

ping pong ping
pong ping
pong ping p
o
n
gue

Loiríssima

lula, trago-vos boa notícia:
a febre amarela que pegaste
é dona marisa Letícia

O mágico de Ós car

como diria oscar niemeyer
com seus 100 anos
de arquitetado oportunismo:
"melhor ser comunista rico
que capitalista pobre"

Vazio

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vácuo vácuo
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vácuo vácuo vácuo vácuo vácuo vácuo vácuo vácuo

Locadora

naum se rebobina dvd

Indefensável

Matou a própria cabeça no peito, desceu na coxa e a chutou bem no ângulo esquerdo. Um golaço.

27.6.08

Antonina

Eu te penso, Antonina; eu te peço, caço, pesco, meço, arremesso todo meu peso sobre ti. E te concluo, nu, suo, adio o ato, o coito, o ápice do tremor. Estás aí? Estás! Doida. Sempre te achei fraca das idéias, falando demasias, mais que nunca, que sempre, sempre. Do dia em que te cobicei até aqueles lampejos, nunca, nunquinha fui feliz. É que tu te deixas cobiçar, arregalada, regateira, oferecida, exibida toda. Melosa. Dada. Ciosa de cio. Não estás mais aí? Ah, esse comichão do ciúme afiando suas lâminas...

Andador

Não, não olhe para o chão.
Não veja onde pisa.

Conexão

O telefone me liga à amizade antiga.

1.1.08

Desmemórias

Sabe quando dá um branco? Pois é, deu um branco. De repente – coisa de duas semanas para cá - passei a não me lembrar de nada. De nada, não, minto, estou confuso; às vezes vêm alguns flashs, mas tão fora de contexto que é impossível ligá-los ao todo, como parte mínima de algo acontecido. Então fico sem saber se é alguma lembrança ou apenas imaginação, vontade de recordar um instante real, vivido. Conformo-me, pois sei que para inseri-los na realidade de meu existir pregresso, teria que haver consciência lúcida de fatos e feitos, e isso me é mesmo impossível nesse momento de minha vida. Contar como tudo começou (esse total apagão mental), eu juro, é o que eu mais gostaria. Nem recentes, nem antigas, nenhuma de minhas experiências me ocorrem. O que fiz, onde estive, com quem, o que falei, ouvi, quando, nomes... Não há nada coordenado, concatenado, nada. De lá para cá, com certa lógica de sobrevivência, venho tentando manter vívido cada acontecimento, por menor que seja, ainda que importância nenhuma tenha. Então tenho anotado tudo. Com detalhes. Percebo que as pessoas à minha volta estão estranhando este novo ser em que me transformei. Sempre com a pequena agenda nas mãos, para baixo e para cima. Para dar melhor sentido às coisas e ao seu entendimento, preciso registrar algumas estratégias que adotei a partir de então. É que (não sei se faço bem), desde o primeiro momento em que percebi essa completa ausência de memória, resolvi fugir da verdade, não contá-la a ninguém. O que narro aqui é simplesmente um destrinchar de tópicos que, como já disse, venho anotando desde 20 de março, aquela sexta-feira de sombrios tons cinzas, um dia depois de eu haver confirmado para mim mesmo, sem entender o que estava se passando, que tudo em minha mente estava zerado. Absolutamente tudo.

Sr.

Em meu monólogo
- disse Deus -
eu dialogo
com todos meus
eus

Suicídio

Essa não é minha praia
para morrer afogado.

Relação

- Infeliz.
- Eu?
- Não, tua desconfiança.
- Ah...
- Até quando estás em silêncio ela te contradiz.

6.9.07

Ultimato

Você tem umas coisas. Que conversa mole é essa, mulher, de que vai sair por aí, aprontando todas comigo? Então você acha que sou homem tolerante, piedoso, conformado, compreensivo, que aceita tudo? Pois pode ir tirando o cavalinho da chuva. Não sei do que sou capaz. Posso até vender essa televisão que você tanto gosta, sabia? Olha que eu pago a última prestação e passo ela nos cobres. Inventa moda pra você ver. Inventa. Testa minha paciência. Você nunca mais vai ver essa tevê na sua vida. E não é chantagem, não. É uma ameaça. Vai, que eu vendo essa porcaria. A gente não tem garantia de nada mesmo.

Espólio

O velho morreu. Deixou tudo para a empregadinha.
- Comigo ele se dava ao desfrute, coitado.
Briga para muitos anos na justiça.

5.9.07

Para sempre

Vai, vai logo, pode ir, a porta está aberta, a rua convidativa, o mundo é todo seu. Corra para a liberdade reclamada. As correntes são imaginárias. Mas por onde for há de arrastá-las. Isso há. Então chumbo verdadeiro. Com minha leveza me entendo eu. Faço questão de sua ausência. Que assim me acostumo, e aí, um abraço, não mais, nem pintada de ouro, nem de jeito nenhum. Dane-se.

Claro (ou vivo)

O celular tocou. Tocava sempre. E, como de costume, não era ninguém. Ou melhor, era só seu marido, o GPS. Desconfiado, conferindo, marcando cerrado. Tinha razão.

Na muda

Meados de julho, mais de meia noite na Fazenda Capão Grande. Falesiana, a criada muda de nascença, soltava gemidos doídos mas consentidos no breu. Os filhos, amigos dos filhos, sobrinhos e netos do capitão Domélio estavam curtindo férias na roça. Para alguns, dias de inesquecível adeus à virgindade.

Reminiscência

Brinquei de ir. Fui. Retornei já crescido. Agora o tempo de criança foi-se. Não se brinca com essas coisas, meu velho. Não mesmo.

Pronto acabou

- Cansei disso.
- De quê?
- Rapidinhas.
- Já?

Diálogo

- Fosse você eu ia.
- Pra dar com cara na porta? Eu não.
- Ou encontrá-la aberta, escancarada...
- A porta?
- Não. A Marina.