Você tem umas coisas. Que conversa mole é essa, mulher, de que vai sair por aí, aprontando todas comigo? Então você acha que sou homem tolerante, piedoso, conformado, compreensivo, que aceita tudo? Pois pode ir tirando o cavalinho da chuva. Não sei do que sou capaz. Posso até vender essa televisão que você tanto gosta, sabia? Olha que eu pago a última prestação e passo ela nos cobres. Inventa moda pra você ver. Inventa. Testa minha paciência. Você nunca mais vai ver essa tevê na sua vida. E não é chantagem, não. É uma ameaça. Vai, que eu vendo essa porcaria. A gente não tem garantia de nada mesmo.
6.9.07
5.9.07
Para sempre
Vai, vai logo, pode ir, a porta está aberta, a rua convidativa, o mundo é todo seu. Corra para a liberdade reclamada. As correntes são imaginárias. Mas por onde for há de arrastá-las. Isso há. Então chumbo verdadeiro. Com minha leveza me entendo eu. Faço questão de sua ausência. Que assim me acostumo, e aí, um abraço, não mais, nem pintada de ouro, nem de jeito nenhum. Dane-se.
Claro (ou vivo)
O celular tocou. Tocava sempre. E, como de costume, não era ninguém. Ou melhor, era só seu marido, o GPS. Desconfiado, conferindo, marcando cerrado. Tinha razão.
Na muda
Meados de julho, mais de meia noite na Fazenda Capão Grande. Falesiana, a criada muda de nascença, soltava gemidos doídos mas consentidos no breu. Os filhos, amigos dos filhos, sobrinhos e netos do capitão Domélio estavam curtindo férias na roça. Para alguns, dias de inesquecível adeus à virgindade.
Reminiscência
Brinquei de ir. Fui. Retornei já crescido. Agora o tempo de criança foi-se. Não se brinca com essas coisas, meu velho. Não mesmo.
Diálogo
- Fosse você eu ia.
- Pra dar com cara na porta? Eu não.
- Ou encontrá-la aberta, escancarada...
- A porta?
- Não. A Marina.
- Pra dar com cara na porta? Eu não.
- Ou encontrá-la aberta, escancarada...
- A porta?
- Não. A Marina.
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