14.2.09

Agulha no coração

Meu pai foi assassinado quando eu tinha 8 anos. O homem que o matou expressava temor nos olhos, pensando que eu vingaria a desdita. Assim viveu o resto de seus dias. Jamais pensei em tal hipótese. Ele morreu dormindo, de morte natural, em março, no dia de meu aniversário de 39 anos. Meses depois de sua morte o perdoei, solitariamente, em seu túmulo, que me foi difícil de ser encontrado, dentre centenas de outros. Não sofri qualquer dor. Saí do cemitério numa leveza. Era domingo. Foi um perdão parecido com uma enorme agulha, retirada de meu coração, onde ficou enfiada por três décadas. Sangrou um pouco, mas estanquei o jorro com os dias seguintes para minha contemplação de certezas. A verdade é essa. A finíssima agulha está aqui para quem quiser ver.